Não ouvi o sinal bater, não percebi quando parte da manada debandou para fora da sala, nem notei que nela estava Henrique, estava perdido em pensamentos nem um pouco ortodoxos.
- Então, Thiago? – Júlia me despertou com um peteleco na orelha.
Levei uma de minhas mãos a orelha para protegê-la, precisei piscar para focalizar Júlia. Quanto tempo perdera naquela fantasia? Cinco, dez minutos?
- Você vai almoçar conosco?
Merda! Não fora Henrique que enviara o bilhete no final das contas. Não precisavam ter mandado logo de cara meu herói, mas custava tanto assim, a essas criaturas superiores, me enviarem alguém menos pior do que ela?
Não verbalizei minha decepção, apenas perguntei a ela sério.
- Quem somos nós?
Júlia riu, tirou os óculos para coçar os olhos castanhos escuros como se estivesse espantando o cansaço.
- Você costuma fazer essas perguntas filosóficas antes do almoço?
- Não foi isso que eu quis dizer – Levantei-me e soquei meu material dentro da mochila – Quem vai almoçar?
- Eu, você...
- Eu ainda não disse que vou – A interrompi.
- Tá azedo, hoje, em?
Não a respondi com palavras apenas lancei o meu olhar (melhor) de tédio, coloquei a mochila nas costas, prono para ir embora.
- Vamos eu, Pasqua, - Ela começou a enumerar – Yuri, Bruno e Daniel.
“Yuri, Bruno e Daniel”, repeti mentalmente. Eita! Eita, eita, eita...
- Vocês vêm? – Uma voz singular perguntou, quase quebrei o pescoço por causa da velocidade que empreguei no movimento de virar o pescoço para olhá-lo.
Yuri manteve o olhar sobre o meu esperando uma resposta, eu perdi as palavras diante de seus olhos claros e desviei meus olhos para seus dedos finos que batucavam inconscientemente uma carteira próxima.
- A comida é boa, Thiago. O restaurante é bacana, barato – Júlia disse tentando me convencer.
- Ok, eu vou. – Respondi.
Ela não sabia, mas já tinha me convencido quando dissera que Yuri Kurovski ia almoçar com ela.
Eu conseguiria suportá-la... Por Yuri.
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