quarta-feira, 16 de março de 2011

Terceirão AcrE! - Capítulo 5

--- Capítulo 5

Passei os três horários seguintes tentando me recuperar do trauma, não tinha coragem de olhar para Júlia ou Henrique. Não queria dar munição para a terrorista e muito menos me render a chantagem.

Durante a aula de Fratezzi, um estranho professor de Física que só usava macacões jeans e botas roceiras para lecionar, Thierry jogou uma folha de monobloco que fora dobrada em quatro partes para mim, só havia meu nome escrito do lado de fora.

Passei cinco minutos olhando para o papel esperando que ele saísse andado pela carteira ou explodisse, como uma bomba-relógio.

Nada aconteceu, sinal de que o perímetro estava limpo.

Com cuidado abri o bilhete, já podia prever uma piadinha estúpida ou um desenho obsceno espetando meu olho.

Fiquei muito surpreso quando identifiquei uma letra feminina no papel, pequena e arredondada, havia apenas uma frase.

“Almoça com a gente hoje?”.

Senti minhas sobrancelhas se franzirem. Fato inusitado, dia estranho, concluí.

Muito estranho... Por qual razão eu seria chamado para almoçar? E por quem?

Aquela questão podia me entender na aula sem-fim de André Fratezzi.

Fiquei então concentrado no mistério – afinal quem teria me convidado para almoçar? Ivy? Sempre achei que a menina dos surtos agropecuários tivesse namorado. Helena? Kelly? Não, elas não estavam acostumadas a chegar nas pessoas, os caras é que iam atrás delas. Olhei para o lado procurando uma folha igual a do bilhete pelas carteiras dos meus colegas mais próximos. Sem sucesso.

Quem poderia ser?

“Almoça com a gente...”, significa que são duas ou mais pessoas. Quem na sala nunca anda sozinha?

Olhei imediatamente para o grupo de meninas que sentava algumas carteiras a minha frente; Paula Tôgo, Bianca, Isabela, Maria Júlia e Júlia Braga (a canadense, não a chata). Quase cai na gargalhada. Aquilo era impossível. Elas não falavam com meninos ou, pelo menos, nunca em público. Descartei-as da minha lista de suspeitos.

Jéssica... O nome me ocorreu depois que eu a ouvi reclamar sobre algo, como habitual. A menina... Não, ela não era uma menina mais, era mulher. Ela sorria com facilidade e gesticulava também de maneira espontânea, movendo as mãos grandes. Falava um pouco arrastado, com seu fraco sotaque mineiro de Paracatu.

Se eu acreditasse em conceitos metafísicos poderia dizer que Jéssica transmitia uma boa energia, onde quero chegar é que a mineira nunca estava sozinha, sempre tinha alguém em sua órbita.

Ainda assim, não fazia sentido, por que ela me chamaria para almoçar?

Acho que estou sendo preconceituoso, se me pegasse como exemplo já acharia uma exceção, garotos não necessariamente tinham garranchos. A letra do bilhete não era obrigatoriamente de uma menina.

Talvez os deuses pagãs haviam finalmente ouvido minhas preces e Henrique finalmente me notara.

Parecia igualmente improvável, mas aquele dia estava tão bizarro mesmo.

Já tinha certeza agora, só podia ser Henrique. Suspirei tentando me recompor, era só uma questão de tempo para que ele viesse até mim.

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