quinta-feira, 2 de julho de 2009

Capítulo 10 – Uma aula de história

Capítulo 10 – Uma aula de história

Organizei minhas coisas e me vesti apropriadamente para ir a Área. Pedi a Hitler para se comportar, mas sabia que mesmo que implorasse de joelho a eles, não iria adiantar nada.

Eu tinha três carros na garagem um sedan prata, que até desconhecia o nome de tão novo que era, tinha câmbio automático, ignição automática e outras veadagens. O segundo era um esportivo chamativo, conversível, meu favorito.

O terceiro foi o que escolhi, era um GOL fodido, que por mais que reformasse todos os anos, ele insistia em cair aos pedaços.

Era duro, barulhento, lerdo, pesado. Girar o volante era como malhar, pesava toneladas. Eu, de alguma maneira, não conseguia me livrar de meu primeiro carro.

Rodei pela cidade, o sol ainda estava alto, e o dia estava quente. Atravessei os bairros ricos e planejados do subúrbio.

Entrei em uma estrada tortuosa que levava para a Área, o sol foi coberto pelas nuvens e dramaticamente, foi como se tudo relacionado aquele lugar fosse mais sombrio.

Agora, uma aula de história.

A Área foi reconhecida como uma cidade autônoma há um pouco mais de uma década, mas começou a ser formado nos anos cinqüenta. A cidade irregular ficava escondida entre colinas, era formada por casas germinadas e prédios econômicos de até três andares, que caiam aos pedaços, tinham janelas quebradas e não eram pintadas, o cinza do concreto era a cor que dominava a cidade.

Duas vias, as únicas asfaltadas e corretamente iluminadas, cortavam a Área, formando uma cruz. Ao centro da cidade havia uma majestosa catedral cercada por altos muros de pedra. Aquilo era o coração da cidade, que pulsava o sangue venenoso por ela e garantia as doses diárias de tabaco, álcool e cocaína. Aquilo era o cérebro da cidade, onde os mercenários e mafiosos ficavam, preparando a próxima geração e...

Bem, mais tarde vou falar sobre o treinamento mais a fundo.

Se você for católico, não se ofenda, mas siga meu conselho, não procure esta catedral querendo se confessar. Se você procurar pelos padres vai achá-los um pouco calados... E esqueleticamente magros.

Alguns na ala externa ao sul, a sete palmos, em caixões ou valas comuns. Outros são menos tímidos e podem ser encontrados pela catedral. Eu detestava pisar neles, achava extremamente desrespeitoso quando tinha seu fêmur chutado ou seu crânio pisado. Mas não era minha culpa eles estarem por todos os lados.

A Área foi criada para acabar com o inchaço urbana, e a população urbana foi obrigada a se instalar lá, até então era denominada de Projeto L (50).

Nos primeiros oito anos de tudo ia bem, na década de 60 os problemas com o tráfico começaram, e em poucos meses a cidade intera estava contaminada.

No início dos anos setenta, dois terços da cidade havia sido ocupados, mesmo com o tráfico o governo continuou isolando mais e mais pessoas na Área, sem se preocupar com a proporção do problema.

Policias foram mandados, mas não resolveram nada, só pioraram, tornando o tráfico existente mais complexo. Antes do final da década de 70, foram enviados soldados da tropa nacional.

Os militares agiram da pior maneira possível. Ocorreu um massacrem, até ai estava tudo indo conforme o combinado, afinal, os militares são treinados para matar, e não para prender.

A situação pior a que me referia, foi a ganância e a corrupção que tomaram os soldados. Eles eram a força máxima na cidade, eles eram a lei, o poder os cegou.

Eles se estabilizaram na região, e o tráfico virou uma forte máfia.

E eu fui treinado por estes soldados.



terça-feira, 30 de junho de 2009

Capítulo 9 – O que fiz na noite passada?

Capítulo 9 – O que fiz na noite passada?
Caminhei com Hitler de volta para casa, quando chegamos a equipe de limpeza já havia terminado sua cruzada, alguns pareciam muito furiosos e frustrados, outros apenas acabados como se tivessem enfrentado um exército.
O chefe da equipe os enfileirou a minha frente para o um relatório rápido, pude sentir alguns muito envergonhados expondo os horrores encontrados atrás do sofá.
Por fim um deles comentou:
- O piso do corredor ficou ligeiramente manchado.
Eu dei os ombros, mas pude sentir um onda de tensão no ar. As pessoas a minha frente trocaram olhares curiosos e nervosos e me senti um pouco ofendido. Se matasse alguém dentro da minha própria casa, uma coisa que não está nos planos, não faria tanta sujeira.
- Alguém mais se machucou com as taças e copos? – Perguntei descontraído.
- Não... – Respondeu o chefe, e pude sentir o ambiente mais leve. – Gostaria de saber o saldo de copos quebrados?
Credo! Saldo de copos quebrados? Ele falou como se tivesse um trabalho de verdade. Ainda assim, fiz uma careta como quem diz “Oh, saldo de taças? Lá se foi o jogo que herdei da minha mamãezinha”. Na realidade não me importava e não era novidade eu levar prejuízo nestas malditas “reuniões sociais”.
- Você me aconselharia a comprar um novo conjunto de taças? – Perguntei.
- E copos de uísque. – Completou o chefe com uma falsa expressão de pena.
- Droga! Eu adorava aquele conjunto. – Reclamei com sinceridade, realmente gostava daqueles copos, tinha comprado na minha última viagem de negócios na Europa.
Agradeci e os dispensei com um cheque gordo, que nem fazia cócegas no meu orçamento.
Tentei traçar meus planos para o resto do dia ainda era meio dia e meia, resolvi comer algo e checar meus e-mails.
Esquentei uma sobra qualquer no microondas e peguei meu laptop. Joguei-me no sofá que cheirava tão bem que parecia novo, parecia até uma heresia comer nele. Liguei a tevê de LCD na minha frente e selecionei uma rádio nacional para tocar.
Minha caixa de entrada de e-mails estava lotada, como sempre, deletei a metade só por olhar o nome de quem enviara, playboys fúteis, trabalhos fáceis, desinteressantes, só depois disso tomei coragem para ler alguns dos e-mails.
Hitler veio e saltou para o sofá. Se já fosse um pecado eu estar comendo no sofá limpo, agora eu e Hitler já estávamos condenados as profundezas do inferno. Ele encostou a cabeça na minha perna e choramingou pedindo carinho.
Cogitei ignorar o pedido, mas não consegui e comecei a fazer carinho em sua cabeça.
Pensei que precisava de um trabalho mais cansativo que me tirasse o stress e a preocupação. Talvez bater um pouco... Sorri, talvez apanhar um pouco seria bom.
Terminei de almoçar e larguei a louça na pia, voltei a sala e Hitler havia se espalhado ainda mais pelo sofá.
Refleti sobre as propostas, algumas eram interessantes envolvendo lugares com alta segurança, e até outros países, outras propostas eram ridículas.
Pensei até me considerá-las, me achando ridículo por alguns segundos. Nestes últimos dias tinha pensado demais na minha aposentadoria, era até um pouco deprimente, mas era verdade, estava ficando velho, lerdo e fraco.
Nós, assassinos, tínhamos duas escolhas, ou morríamos cedo ou sumíamos em uma eterna aposentadoria.
Havia algumas exceções, lógico, como alguns dos meus treinadores, exemplos de como envelhecer com “dignidade”.
Então de todas as possíveis opções, eu preferia ser positivo e poder me aposentar inteiro, aproveitando todo o dinheiro que consegui juntar.
Queria até poder me casar, com uma mulher alegre, uma casa grande no subúrbio, dois filhos, três cachorros. Acordei do meu momento sonhador com o celular tocando.
Reconheci imediatamente quem ligava pelo toque, a música tema de Psicose, era Mário.
- Olá, querido!- Ele me saudou animado e sarcástico.
- Oi, Mário.
- Como vai o herói da semana?
- Vivendo...
- Viu o pedido de Zacarias Costa?
- Vi, mas não estou interessado.
- Ok, posso escalar Eros então?
- Fique a vontade, Mário. Estive pensando em tirar umas férias.
- Férias?! – Berrou Mário do outro lado da linha.
- É. – Confirmei com simplicidade.
- Você e férias? Na mesma sentença?
Ignorei o comentário irônico. Houve um breve momento de silêncio e pude ouvir uma fonte artificial que Mário tinha no escritório.
- O bar de Sérgio continua aberto? – Perguntei por fim.
- Até onde saiba...
- Vou visitá-lo.
- Vai a Área em plena luz do dia?
Não tinha pensado em ir de dia, mas a idéia me pareceu excelente.
- Eu nasci na Área, Mário. Não se lembra? Todos nós viemos de lá. – Relembrei Mário desgostoso. – Não precisamos ir de noite para encontrar antigos fantasmas.
- Até me arrepiei agora. – Zombou Mário.
É, eu tive que admitir, foi uma péssima frase de ação.
- Você vem? – Convidei.
- Talvez mais tarde. – Mário respondeu e perguntou. – Eí, o que deu em você ontem à noite?
- Quê?
- Sei lá, eu tinha ido embora comer Dora, mas o pessoal que ficou falou que você chegou meio alterado.
- Comer Dora? – Perguntei mudando o foco da conversa.
- Não fale assim, a coitada não está de luto, só está recuperando o tempo perdido.
- Obrigado pela parte que me toca.
- Eu tinha até esquecido do que ela fazia...
- Tchau, Mário. – O interrompi impaciente.
- Com aquela...
Desliguei antes que ele terminasse, sabia muito bem do que ele estava falando, não tinha como esquecer.


Pessoal, Comentem!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Capítulo 8 – Conheça Paula

Capítulo 8 – Conheça Paula
Estonteante como sempre, Paulinha usava um curto short jeans expondo as pernas bem torneadas. Ela tinha um olhar triste e cansado, era a primeira vez em anos que eu a via sem nada de maquiagem.
Levantei-me e dei um abraço nela. A envolvi primeiramente devagar, mas depois a apertei com força sentindo cada curva ao meu encontro.
Ela começou a chorar, mas só afaguei seus cabelos, como vi Arthur fazendo, várias e várias vezes.
Depois de um tempo sentamos a mesa. Chamei o garçom e pedi o sorvete favorito de seu pai e vi o brilho de reconhecimento em seus olhos.
- Quando você era pequena, adorava o de morango com marshmallow. – Comentei. – Mas você não é mais uma menininha.
Ela concordou comigo, mas recusou o sorvete.
- Não almocei.
- Nem eu. – Admiti.
- Eu não quero sorvete. – Ela disse calmamente coçando os olhos vermelhos.
- Traga uma água para ela. – Eu ordenei ao garçom e o dispensei com um gesto.
Paula estava com as mãos sobre o colo e olhava para elas. Me debrucei sobre a mesa e sussurrei em seu ouvido palavras reconfortantes.
Ela tinha dezoito, eu a vi crescer. Se fosse uma pessoa ética diria que a vejo como filha ou como uma irmã mais nova.
Mas eu não sou uma pessoa ética.
Ali, com os cabelos ao vento, olhos injetados, a boca entre aberta e tremendo por causa dos soluços ela estava irresistivelmente sensual.
Quando o sorvete chegou voltei a me sentar, a observei bebendo água em desespero. Quis levá-la para casa.
Comi uma colher do sorvete era horrivelmente doce e enjoado mas me forcei a agüentar sem fazer careta ou transparecer nada.
Ela estava agora com uma das mãos sobre a mesa e olhava distraidamente para Hitler.
Segurei a mão estendida com delicadeza. Pude sentir sua pulsação dar um salto, sorri para ela. Passei meus dedos por entro os dela juntando nossas mãos.
- Vai ficar tudo bem. – Eu lhe disse com o melhor sorriso que consegui.
Ela sorriu de volta.
- Eu sei, afinal, tenho meu tio Victor.
Fiz uma careta. Por mais que gostasse que alguém, me considerasse da família, o lance de tio incomodava um pouco o meu ego masculino.
Quase dez anos nos separavam, mas para mim o número não era tão chocante, eu a conhecia muito bem, tinha catorze anos quando a vi pela primeira vez.
Entenda, eu tinha algum tempo de treinamento com os especialistas, mas ninguém queria contratar um pirralho de 14 para fazer um serviço. Precisava de algo para passar meu tempo e nenhum dos meus treinadores queria que eu me envolvesse com drogas, o único destino para jovens da Área Negra.
Então Arthur, antes de trair a todos, me ofereceu um trabalho, cuidar de Paula. Arthur era um dos mais influentes na Área e mantinha uma vida de aparências, quando não estava matando e torturando, era um advogado, excelente, diga-se de passagem.
Para ele, sua filha e sai esposa era alvos fáceis nas mãos de seus inimigos.
Na verdade só imbecis seriam capazes de ameaçá-lo, então o trabalho de cuidar de Paula, se tornou fácil e divertido. Com vinte anos me demiti, estava recebendo muitos pedidos periódicos e uma fama crescente sobre mim começou a se espalhar pela cidade.
Ainda me lembro do rosto choroso de Paula aos onze anos perguntando se ia voltar a visitá-la, menti na época dizendo que viria sempre que pudesse.
A verdade é que quando eu tinha tempo livre me ocupava com a prática de Le Parkour e cursos instrutivos de como aplicar com segurança na mercado de ações. Só nos encontrávamos em festas e dividimos alguns sorvetes nesta mesma mesa.
Paula olhava para meu sorvete com um fingindo desinteresse, servi uma porção na colher e lhe ofereci. Ela aceitou e se debruçou sobre a mesa e encostou os lábios na colher.
Depois de comer o que eu havia oferecido, servi outra porção generosa e ofereci.
Limpei os lábios dela com delicadeza e tive vontade de beijá-la Mordi a ponta da língua tentando me concentrar e empurrei o resto do sorvete para ela.
Paula me olhou grata.
- Era o favorito do meu pai. – Ela comentou brincando com a calda.
- Sério?
Ela concordou e comeu o restante do sorvete em silêncio. Este era o especial entre nós dois, o silêncio sincero de quando não tínhamos nada para falar.
Hitler estava em silêncio, mas inquieto mexendo as patas, levantando o focinho e farejando o nada.
Levantei-me e estiquei as costas, Paula me estudou com os olhos preocupados.
- Você parece cansado. – Ela comentou.
Como estava ocupado demais encostando as mãos nos pés, não respondi.
- Mas ao mesmo tempo parece bem. – Ela prosseguiu devagar.
Consertei minha postura e olhei no fundo dos seus olhos.
- Sempre estou bem quando estou com você. – Eu disse mais não pareceu natural, pareceu forçado e artificial.
Ainda assim, ela sorriu para mim. Arrastei uma das cadeiras para mais perto dela e sentei-me.
Paula me abraçou, colocando a cabeça no meu ombro, com uma voz receosa disse:
- A pessoa que fez isso vai pagar.
E eu sabia que deveria falar para ela que eu era o culpado o quanto antes. Sabia que quanto mais rápido explicasse a situação mais fácil seria para consertar tudo.
Direcionei toda minha energia para aquela ação mas não pude, não queria vê-la perdida novamente.
- Como vai Renato? – Perguntei fingindo desinteresse sobre como ia seu namorado.
- Bem. – Ela disse vagamente. – Ocupado com negócios. Viajando como sempre.
- Ele falou com você? Sobre o que aconteceu?
Ela negou sem tirar os olhos do que sobreviveu do sorvete.
- Digo... Ele ligou, mas ele foi... formal demais, frio demais.
Eu passei meu braço ao redor dela aninhado-a.
- Ele é um idiota.
Renato era muito mais do que um idiota, mas preferi deixar os detalhes só para mim.
Despedi-me de Paula com um beijo estalado em sua testa e a promessa de que voltaria logo e a acompanharia no velório de Arthur.

Capítulo 7 – Na sorveteria

Capítulo 7 – Na sorveteria
Tomei banho, me vesti, enfeixei o pé e liguei para um serviço de limpeza.
Quando a campainha tocou, eu já estava pronto para caminhar com Hitler.
Dei algumas rápidas orientações ao responsável do grupo, coisas habituais como, não procurem por um fundo falso no meu closet, vocês podem encontrar muito mais do que poeira, e não mecham no meu escritório por mais caótico que ele possa parecer.
Hitler pareceu ficar mais conformado quando saímos. Eu andava meio torto para evitar que os pontos se abrissem. Hitler como um labrador de nascença corria pelos cantos me arrastando.
Cheguei até o bairro do traidor e parei no lado de fora de uma sorveteria. Estiquei o pé machucado sobre uma das cadeiras sobressalentes, me sentindo muito a vontade.
Hitler latia para as pessoas e abanava o rabo, as pessoas só me notavam ali por cause dele.
Ninguém se importava com uma criatura de bermuda cáqui e blusa branca sentado ao sol, bebendo água.
Ninguém se importava com alguém tão discreto, tão normal.
Eu não estava lá para ser notado mesmo. Tirei meu celular de um dos bolsos, para ouvir com mais facilidade caso me ligassem.
Mantive meus olhos voltados para um prédio do outro lado da rua, era alto e espelhado, tinha uns 20 andares. E eu sabia que o traidor morava em um duplex com entrada exclusiva para a cobertura.
Eu não podia ver muito além dos dez primeiros andares na posição em que estava, mas não fazia questão de me mexer o pescoço.
Tudo que eu precisava era ter uma boa visão da entrada do prédio. Era manhã, a superdose de uísque me fizera perder muito tempo dormindo. Naquele momento eu comecei a sentir fome e uma dor de cabeça voltou a me incomodar. Já haviam se passado mais de 24 horas desde a morte de Arthur.
Hitler cansou de interagir com o mundo e se escondeu embaixo da mesa para evitar o sol quente.
Quem eu esperava saiu batendo o pés, seus cabelos pareciam bagunçados e sua expressão era a de uma pessoa perdida. Ela andou para a direita, mas parou e seguiu alguns passos para a esquerda. Parou novamente, com um grande celular verde na mão, e arrastou até a posição inicial.
Peguei o cardápio sobre a mesa, Hitler levantou seu rosto curioso. Olhei para ele e comentei:
- Pode tirar o cavalinho da chuva, diabético.
Hitler abaixou o focinho e voltou a fechar os olhos.
Do outro lado da rua a garota havia decidido para quem pedir ajuda. Meu celular tocou sobre a mesa, sem me surpreender, identifiquei o nome de quem ligava e esperei tocar mais algumas vezes antes de atender:
- Oi.
- Oi, tio. – A voz dela estava embarganhada, baixa, trêmula. Chorosa.
- Olá, querida. – Eu disse calmo.
- Eu precisava falar com alguém...
- Estou sempre disponível para você.
- Você está em casa?
- Não... Estou curtindo um sorvete e pensado nos velhos tempos.
- Onde? – A voz dela tremeu e hesitou.
- Aquela que seu pai costumava me encontrar.
- Na Tropical? – Seu tom agora era mais seguro.
- É.
Mantive-me escondido por trás do cardápio. Se levantasse meus olhos teria visto ela olhar atentamente para a sorveteria me procurando.
Fiquei passando meus olhos pelas opções, mas já tinha decidido há muito tempo o que iria pedir.
Hitler latiu baixo, tirei os olhos do cardápio, ela estava a menos de um metro de mim.

Capítulo 6 – O corte

Capítulo 6 – O corte
Cheguei em casa chutando, xingando e berrando. Só lembro-me desta entrada triunfal. Estava bêbado demais para conseguir lembrar o que eu fiz depois.
Acordei vomitado no chão da sala, pela manhã. Minha casa estava um caos cheia de lixo por todos os lados, destruída.
Aquilo me transportou para a lembrança as minha casa de infância, eu até me senti confortável ali.
Minha cabeça latejava três vezes mais, Ficar de porre era uma porra.
Meu cão me olhou parecendo ter medo de mim e comecei a me perguntar o que eu tinha feito.
Levantei-me devagar, arranquei a blusa vomitada e a joguei no chão com raiva. Hitler, meu cão choramingou e se afastou.
Isso era o ruim de ter um cão sentimental, se fosse para escolher eu preferiria naquele momento um cachorro furioso mordendo meus calcanhares, para demonstrar o que sentia.
Estudei a sala começando a finalmente me incomodar com a bagunça.
Comecei a marchar em direção ao banheiro, sofrendo por antecedência ao me imaginar limpando a casa.
Nem enxerguei o caco de vidro que estava no chão. Pisei com vontade nele.
A dor foi trucidante, uma queimação se espalhou por todo meu pé e começou a subir até o joelho.
Não xinguei, não reclamei, foi até um pouco libertador, acho que estava precisando sentir dor. Dei mais dois passos com força e o vidro adentrou ainda mais.
Deixei uma pegada de sangue no chão.
Tudo que pude raciocinar foi o quanto seria chato ficar esfregando o chão até a mancha sair.
Encostei-me na parede do corredor e puxei o pé para cima. Estava feio mas nada comparado as coisas que já vi.
Sentei no chão e coloquei o pé machucado suspenso, o sangue escorreu pela perna.
Merda, eu não queria fazer outra mancha no chão. Assoviei para Hitler.
Esperei e aquele cão desgraçado não veio, tive de chamá-lo pelo nome.
Ele veio com o rabo entre as pernas e uma expressão contrariada. Sentiu o cheiro de sangue mas precisou enfiar o focinho na poça para identificar de onde vinha.
- Hitler, pegue uma toalha. – Ordenei.
Hitler ficou parado me estudando com cuidado. Esperando por algo.
- Por favor. – Pedi educadamente.
A delicada expressão pareceu surtir algum efeito. Meu cão foi até a cozinha.
Encostei o pé direito, o cortado, sobre a perna esquerda e manchei meu jeans. Com meus dedos finos peguei a pequena ponta de vidro que estava visível e fora do pé.
Puxei devagar e gerei um fluxo de sangue impressionante. As pontas dos meus dedos ficaram cobertas pelo sangue quente e pegajoso.
O cheiro metalizado era ótimo. Fiquei tentando a lamber meus dedos, algo me conteve. Agradeci, iria me achar muito ridículo se o fizesse.
Fiquei brincando de deslocar o pedaço de vidro de um lado para o outro, criando constantemente um fluxo de sangue insano.
Hitler chegou trazendo mais do que a toalha que havia pedido. Trouxe, na boca, o kit de primeiros socorros. Tirei o kit de sua boca com a mão limpa e um filete de baba canina veio junto.
Hitler sentou-se de frente para mim e ficou me encarando como se quisesse evitar que eu fizesse alguma besteira.
Tudo bem, pensei. Sem dificuldade abri o kit com a mão limpa, uma das proezas de ser ambidestro. Tirei uma anestesia e coloquei na seringa, injetei no me pé e esperei começar a fazer efeito.
Meu pé começou a adormecer, dei uma puxada violenta no pedaço de vidro arrancando-o inteiramente do meu pé.
Tentei estancar o sangue e, só depois que consegui, me arrisquei suturar meu pé, dei alguns pontos tortos.
Hitler rosnou me censurando, mas o ignorei frustrado, um cachorro achava que podia me intimidar.
Bufei uma maldição e pulei com um pé só até o banheiro. Ao passar pelo corredor e dar um checada rápida nos cômodos percebi que a limpeza não ficaria sob minha responsabilidade.

Capítulo 5 – Confissões de um bêbado

Capítulo 5 – Confissões de um bêbado
Aqui vai minha concepção sobre o álcool.
Beber é uma arte, quando se sabe beber. Ficar embriagado é inseguro, ficar bêbado é humilhante e por fim, porres e ressacas são uma merda.
Você bebe vinho e saquê com os amigos e em casa, para você poder cair no sono na primeira oportunidade depois que rir idiotamente. Beber duas ou três latas de cerveja casualmente em um churrasco é aceitável. Agora uísque, cachaça e vodca você só enfia goela abaixo, quando está tentando se matar, de preferência em casa, sozinho e no escuro.
Mas lá estava eu num boteco, na terceira dose de uísque quando ouvi pela tevê notícias sobre o assassinado brutal do traidor.
Sua esposa apareceu chorosa acompanhada pela filha, eu as conhecia muito bem.
Era isto que estava me incomodando? Perguntei-me sem entender. O simples fato de que teria que reconfortá-las, ampará-las? É, era uma situação nova para mim.
Não era a primeira vez que eu matava e duvidava que seria a última, contudo era a primeira vez que eu iria reconfortar a família do falecido.
Eu havia matado um traidor, um ex-colega de profissão, um ex-parceiro, um ex-mafioso, um ex-amigo. Maldito seja Arthur.
Você deve estar se perguntando o que eu faço da vida. Sou a escória, o lixo. Chame-me de boêmio, de herege, pecador, mercenário. Pois eu sou um matador de aluguel.
E ai vai o pior. Eu gosto do que faço. Talvez seja porque sempre associei felicidade com dinheiro.
Um bancário tedioso com 30 anos de serviço nunca vai conseguir acumular nem metade da quantia que eu tenho guardada nas minhas contas.
Ganho muito com a morte das outras pessoas. Fato.
Comecei cedo, sou relativamente novo. Acredito que foi tudo da minha mãe, como sempre.
Uma das lembranças mais rudimentares que tenho é daquela imbecil reclamando da vida e da falta de dinheiro. Ela costumava a falar dos vizinhos e seus ricos filhos traficantes, com inveja.
Lembro no dia que minha irmã mais velha, Bernada, nos disse que estava com um emprego novo, matadora.
Mamãe ficou orgulhosa, amou sua filha ainda mais e me deixou de lado.
Quero deixar claro, eu não sou uma pessoa complexada, só tive azar na infância. Naquela época eu não tinha nada, hoje, eu tenho tudo que preciso e ainda mais.
Continuando... Onde estava? Ah, sim...!
Mamãe ficou orgulhosa de Bernada, faceira, fazia questão de esfregar na minha cara assim como nas cara dos vizinhos a novidade.
A afobação passou rápido. Claro que a boca enorme da minha mãe não se conteve. E é óbvio que em menos de dois meses de atuação, Bernada apareceu morta em nossa soleira.
E sem sombra de dúvida, minha mãe me culpou por tudo.
Ela tinha bons argumentos, afinal, Bernada tinha me colocado no grupo de assassinos antes de morrer.
Lembro-me como se fosse ontem a minha primeira missão, enterrar alguns animais mortos no treinamento. Quase vomitei.
Em poucos meses já estava enterrando pessoas, a cada corpo violado, estripado, decepado, rasgado, descobria o lado fétido da humanidade.
Em menos de um ano tinha sido adotado pelo grupo de ex-militares e fui treinado como um combatente desde os treze.
Quando fiz dezesseis anos recebi minha primeira missão, juntamente com o primeiro pagamento.
Foi um linchamento, surra seguida de morte. Era para ser devagar, dolorido.
Lembrei do sangue, das lágrimas, das pernas chutando desesperadamente o ar, do brilho apagando dos olhos.
Merda! Eu percebi que estava bêbado, emocional e fraco. Era patético.
Saquei 150 da carteira e coloquei no balcão. Eu tinha entrada no boteco sob o sol de meio dia, e ao escurecer, me arrastei de volta para casa.

Capítulo 4 – A (maldita) festa

Capítulo 4 – A (maldita) festa
O que pareceu horas durou minutos. Acordei assustado e estressado, um som Techno explodia e ecoava por meu apartamento. Escondi meu rosto no travesseiro e lamentei, a festa realmente tinha vindo até mim.
Filho da puta, pensei, na minha cabeça o pensamento soou como um grito feroz que ficou se debatendo nas paredes do meu crânio. Eu não queria nada daquilo.
Arrastei-me para fora da cama e abri a porta do quarto. O som me atingiu e tive a impressão que estava sendo arremessado para trás.
Alguém veio ao meu encontro e falou uma língua que não entendi. Mas como a pessoa sorriu quando terminou a frase eu me senti obrigado a sorrir de volta e concordar.
- É.
Minha sala estava um caos, pessoas, comidas, copos, garrafas, guardanapos.
Meu cão estava escondido debaixo de uma das cadeiras com uma expressão depressiva, ele não gostava de tanto barulho também.
Dei um passo para trás e me “escondendo” no corredor. Foi inútil, óbvio. Estava lá distraído quando...
Um corpo se espremeu contra o meu, seu perfume caro me envolveu. Olhei para os olhos dela, eles estavam vermelhos como sempre.
Dora estava naquele meio desde que eu me lembre.
Ela pressionou-me ainda mais contra a parede e começou a fazer sugestões obscenas.
Perguntei-me quando tinha dito algum não a ela e constatei que nunca tinha recusado aquele corpinho. Minha cabeça latejou, é, sempre tem uma primeira vez para tudo.
Eu a afastei, Dora ficou chocada, por um segundo ficou paralisada e depois começou a gesticular exageradamente como sempre faz. Tinha um tom de frustração em sua voz:
- Eu sabia que não devia ter de dado exclusividade! Perdi meu tempo com você. Ela cuspiu as palavras.
Dei os ombros, não estava a fim de discutir. Saí para a sala visando a porta. Trombei com algumas pessoas que gritavam “parabéns” ou “festa boa”, mas passei batido.
Já estava com a mão na maçaneta quando Mário me chamou. Ele tentou parecer simpático e quase me convenceu. Apertou meu ombro e com um tom de conselho comentou:
- Não se preocupe com Dora. Era só uma questão de tempo ela voltar a dar pra tudo mundo.
Ele não sabia que eu estava é mais pouco me fodendo para Dora. Saí de casa, minha própria casa, batendo a porta e rumei até o boteco mais próximo.

Capítulo 3 – O taxista cretino

Capítulo 3 – O taxista cretino
- Rua Paraná, prédio 150. - Ordenei ao motorista fechando os olhos.
- Claro, senhor. – O taxista comentou.
Sua voz era vagamente familiar, mas eu não quis me importar. O táxi começou a se deslocar pela rua.
O sacolejo e o cheiro de couro me deixavam embriagados de sono.
- Poderia perguntar por que está indo para casa, senhor? – O taxista perguntou.
Um pouco do meu bom senso pareceu despertar, eu não tinha falado em casa. De fato não havia falado muita coisa.
- Como? – Perguntei.
- Por que está indo para casa...? – O taxista insistiu, sua voz estava diferente e consegui reconhecê-la. – Quando tem uma comemoração a fazer.
Mário, constatei, um imbecil de marca maior, com quem eu ainda tinha um pouco de paciência. Acreditava que era um sentimento recíproco, eram poucas as pessoas com paciência comigo também.
Além de pseudo amigo, Mário era o meu pseudo chefe.
- Quero ir para casa... – Reclamei.
- Temos que festejar esse trabalho bem feito.
- Casa. – Gemi.
- Depois da festa.
- Agora.
Minha cabeça latejava violentamente, começava a ficar enjoado. O cheiro de couro, antes agradável, agora estava pesado, fétido impregnando o ar.
- Abre a janela, Mário. – Pedi sentindo a acidez do vômito subindo pela garganta.
Mário virou o rosto para trás:
- Está passando bem? – O cretino me perguntou com um sorriso amargo como a bile entalada no meu esôfago.
Tive vontade de vomitar em sua cara, mas segurei o impulso.
- Enxaqueca – Reclamei. – Preciso descansar um pouco. Prometo que depois encontro vocês.
- Pode deixar. Afinal, se você não vai até a festa, a festa vai até você.
Eu sorri por causa do comentário, mas no fundo temia que a festa realmente fosse até mim. Vindo de Mário, nada parecia uma inocente brincadeira.
Quando ele parou na minha rua tudo que eu conseguia pensar era minha cama.
Soldei a porta do táxi e Mário fez algum comentário sobre pagar os danos.
Nem sei como cheguei em casa, se peguei o elevador de serviço ou o social, não sei por que porta entrei.
Nem me lembro se passei pela sala ou pela cozinha. Hoje, a única coisa que posso afirmar sobre aqueles instantes é que quando me encontrei consciente já estava na cama.

Capítulo 2 - A fuga

Capítulo 2 – A fuga.
Percebi que estava suado como um porco, meu coração estava disparado por causa da explosão de adrenalina.
Já atirou em alguém? Tente um dia é extremamente gratificante.
Tirei o carro da via expressa e o meti em um beco escuro. Tirei a blusa preta de manga comprida, as luvas e a peruca que Mário me obrigou a usar.
Coloquei uma camiseta laranja que estava sobre o bando. Saí do carro, segurando essa pilha de coisas. Um mendigo que estava no chão olhou para mim curioso.
Ofereci a pilha para ele, que me olhou sem entender o que estava acontecendo.
- Presente. – Esclareci e ele aceitou com um sorriso banguela.
Voltei ao carro e tirei as peças falsas grudadas na placa do carro. A placa ficou completamente diferente da que os seguranças possivelmente tinham avistado.
Despedi-me do mendigo com um aceno e voltei a entrar no carro. Guardei as peças no fundo falso do banco de passageiro.
Olhei pelo retrovisor antes de dar ré e percebi que ainda estava usando os óculos de armação grossa e preta. Tirei-a do rosto e a quebrei. Joguei no fundo falso antes de fechá-lo.
Peguei um estojo de lentes de contato e escondi os meus chocantes olhos azuis, a única herança útil da minha mãe, por trás de um tom cinza mórbido.
Dei ré e voltei a entrar na via expressa. Minha cabeça começou a doer de maneira inacreditável, tudo que eu mais queria naquele momento era uma overdose de aspirina.
O cansaço começou a me dominar, queria fechar os olhos e só voltar a abri-los em alguns anos.
Entrei em uma praça e larguei o carro no estacionamento conforme o combinado, estava atrasado apenas por cinco minutos.
Quando sai, trombei com uma mulher linda, ou pelo menos achei que fosse linda, pois ela estava vestida dos pés a cabeça e usava um maldito chapéu, mas o que pude sentir que seu corpo era perfeito.
Eu pedi desculpas e me afastei. Entrei no primeiro táxi que encontrei e afundei no banco traseiro.

Capítulo 1 – O assassinato

Vamos lá, gente!
Capítulo 1 – O assassinato
Se me perguntassem o que estaria fazendo em dez anos, eu nunca me imaginaria onde estou agora.
Nunca me imaginei por trás das cortinas, ajoelhado e com as mãos suando dentro da luva de couro preta. Nunca me imaginei arrumando a arma de longo alcance para matá-lo.
Respirei fundo e apoiei a arma com mais segurança. Esperei.
À minha frente, por trás das cortinas as luzes se acenderam. Pode-se ouvir os murmúrios excitados da multidão.
Consegui identificar as pessoas sobre o palco pelos contornos, mirei na cabeça do traidor.
Um porta-voz apresentou o traidor como uma piada sem graça, forçando um ambiente amistoso, a platéia riu de forma exagerada.
O traidor andou até o palanque, minha mira acompanhou seu movimento, ele limpou a garganta e saudou:
- Bom dia!
Atirei.
Larguei a arma e disparei a correr. Estava quase na porta quando a multidão histérica começou a gritar querendo entender o que havia acontecido.
Cheguei no estacionamento e entrei no carro, coloquei o cinto. Ri comigo mesmo pensando: “Acabei de me tornar o mais novo procurado do Estado”.
Pelo retrovisor vi alguns seguranças saindo pela porta dos fundos, me procurando.
Acelerei, dois dos seguranças começaram a correr atrás do carro. “Idiotas,” pensei, “Eu acabei de salvar a vida de vocês”.
Esse lance de agradecimento está muito desvalorizado nos dias de hoje. Olhe por exemplo, eu acabei de salvar esses caras, juntamente com a família deles, e agora eles estão perseguindo meu carro, loucos par estourarem meus miolos, como tinha acabado de fazer.
Claro que eu não dirigia mal, em poucos segundos entrei na via expressa e os perdi de vista.

Primeita Postagem



Ok.



Sejamos sinceros.



Nem sei se esse blog vai durar, pois nada que eu faço na net parece durar.



A função desse blog é poder postar uma das histórias que tenho desenvolvido e ver as reações... e poder atualizar Natália, Amanda, Dudu e Rana (fãs- ou pelo menos acho que são) enquanto estivermos de férias.






A futura história é sobre um assasino de aluguel.



Antes que comecem a preciso avisá-los de algumas coisas.



1) Meu único revissor gramátical é o Word, (por enquanto), então despreze todo e qualquer erro.



2) Há palavrões no texto...



3) Há um nível básico de violência, uso de drogas e isinuação de sexo. Porque ninguém é de ferro.



Se você rir com a foto abaixo e possível que goste do texto.